Dentro do vibrante panorama gastronómico português, há uma voz feminina que se ouve bem alto e claro: a de Marlene Vieira. Esta chef nortenha de renome conseguiu o que muitos tentam e poucos conseguem: conjugar, na perfeição, a cozinha tradicional portuguesa com um toque moderno e pessoal. Os seus projetos no coração de Lisboa, ZunZum e o restaurante Marlene não são apenas uma homenagem à herança culinária lusa, são também os palcos onde esta chef dá asas à sua criatividade e paixão.
Voltar a descobrir as tradições
A cozinha de Marlene Vieira não se mede só em sabores e técnicas, mas também em histórias e memórias. Desde que deu os seus primeiros passos na cozinha aos 12 anos, até à sua consagração como jurado e professora no concurso Chefs Academy, Vieira manteve um compromisso firme com os sabores da pátria. Tanto no mercado Timeout, como no gastrobar Zunzum ou no restaurante gastronómico Marlene, cada prato seu é uma celebração da “portugalidade”.
A mulher e a gastronomia portuguesa hoje, segundo Marlene Vieira
A chef Vieira não ressalta só pelos cozinhados, é igualmente importante a sua perspetiva sobre o papel da mulher na gastronomia. Num “setor tradicionalmente dominado por homens”, Marlene reconhece os desafios e as barreiras que as mulheres ainda enfrentam. Através da sua experiência pessoal, tanto ao gerir todos os aspetos do negócio, como as equipas, adquiriu uma visão única do progresso e dos obstáculos persistentes. Critica ativamente o abandono da cozinha tradicional em prol da ganância rápida, mostrando a sua paixão pela cozinha e sobretudo pela cultura e a herança do nosso país.
Além disso, a chef Vieira defende uma mudança na perceção e representação das mulheres na cozinha. Apesar de que a cozinha portuguesa ter sido historicamente construída por mulheres, reconhece que “temos um grande caminho a percorrer para que as mulheres chef recebam tanto reconhecimento e valorização como os seus homólogos masculinos em Lisboa e mais além”. A sua visão é clara: a “necessidade de lutar por um lugar ao lado dos homens na cozinha e nos eventos gastronómicos”.
Temos um grande caminho a percorrer para que as mulheres chef recebam tanto reconhecimento e valorização como os seus homólogos masculinos
Com a vista posta em 2024, Vieira demonstra o desejo que tem de “estar mais presente nos seus restaurantes, pondo o foco (ainda mais, se possível) na qualidade e em manter as altas expetativas que o seu restaurante, Marlene, estabeleceu. Sendo uma das poucas chefs portuguesas que lideram um restaurante gastronómico a solo, é consciente do nicho exclusivo e exigente que atende. O caminho “não tem sido fácil”, mas a sua determinação é evidente no “desejo que tem de “continuar a construir e melhorar a sua marca”, que celebra uma década este ano.
O restaurante Marlene: um espelho de filosofia pessoal
O restaurante Marlene, o projeto mais recente da chef, é um espelho da sua filosofia de vida e um testemunho do foco culinário que emprega. Marlene Vieira conseguiu unir, neste espaço, a tradição e a inovação, onde cada prato tem um pouco do seu toque pessoal. Este lugar não é só um restaurante, é um palco desenhado meticulosamente, de forma a oferecer experiências gastronómicas excecionais.
O restaurante Marlene é o sonho tornado realidade da chef. É mais do que um estabelecimento gastronómico, é um teatro de sonhos onde cada “ato” é um prato que conta uma história, um espaço onde a comida se converte numa experiência sensorial completa. Aqui, a chef Vieira não partilha só a sua forma de ver a cozinha portuguesa, ela convida os clientes a ser parte de um diálogo culinário, um diálogo que enriquece com cada visita e cada jantar servido.
Uma trajetória imparável
Marlene Vieira não é só uma chef, ela é uma autêntica visionária que reinventou a cozinha portuguesa e desafiou as normas do setor. A sua história está cheia de paixão, determinação e talento, elementos que possui abundantemente e que são refletidos em cada um dos seus empreendimentos culinários. Marlene Vieira começou a carreira a uma idade muito tenra, trabalhava os verões num restaurante familiar, até chegar à escola de hotelaria, e mais além: ela esculpiu de forma determinada, o seu destino com as ferramentas da vocação como cozinheira. Esta é uma paixão que já resistiu a vários obstáculos, uma paixão que não conhece limites nem fronteiras e que a levou de Portugal a Nova Iorque à procura de experiências e sabedoria.
Além das habilidades culinárias e de liderança que demonstra, Marlene Vieira, ao longo da sua trajetória, tem vindo a mostrar uma compreensão profunda dos negócios gastronómicos e da marca pessoal. A sua perspetiva sobre a importância de “manter a autenticidade frente ao desejo de ganância rápida”, é a voz da resistência contra a corrente da comercialização excessiva. Este facto é ainda mais evidente através de projetos como o Zunzum Gastrobar e a presença no mercado Timeout, onde cada oferta culinária respira a filosofia e o amor da Marlene pela cozinha portuguesa.
Em eventos como o Madrid Fusión, Marlene Vieira tem sido elogiada pela habilidade que demonstra em reinventar a cozinha portuguesa e, além disso, tem recebido o reconhecimento dos seus companheiros e da crítica internacional. E apesar da sua juventude poder ser vista como um contraste à sua vasta experiência, é precisamente esta combinação que lhe tem permitido cruzar fronteiras e desafiar expetativas.
Também o grande livro vermelho da gastronomia mundial já pousou a vista no restaurante Marlene, um sinal de que talvez o reconhecimento formal e as estrelas Michelin não estejam longe. Não obstante, para Marlene Vieira estas possíveis estrelas não são o fim, se não o meio para continuar a elevar e honrar a cozinha portuguesa. Resumindo, estamos perante uma chef que representa o melhor da gastronomia: inovação, tradição e um desafio constante às normas estabelecidas. Marlene Vieira é, sem dúvida, um nome que se ouve bem alto na cozinha portuguesa e que continuará assim enquanto ela continue a sua missão de cozinhar não só pratos, mas também experiências e mudanças significativas na indústria.