Paulo Amado é o homem que fica nos bastidores de muitos dos eventos ligados à gastronomia em Portugal, do Congresso dos Cozinheiros às Food Weeks de Lisboa e do Porto, Paulo Amado aposta nos cozinheiros como atores cruciais para uma mudança social.
Paulo Amado diz-se, antes de mais, humanista. Um filho, um pai, um irmão, um amigo, a expressão humana é indispensável à vida. É estudante de trompete, faz surf, tem uma banda e “no meio disso tudo, trabalho um bocadinho na gastronomia” acrescenta com ironia. A verdade é que, se tivéssemos de absorver informação sobre os históricos passos da gastronomia portuguesa, era com Paulo Amado que estaríamos devidamente esclarecidos. Sabe de cor não só os nomes de tudo quanto é chef em Portugal, mas também os seus percursos, locais onde estiveram, equipas com que trabalham ou trabalharam.
Tinha 24 anos quando estava em Lisboa a estudar Direito. Em 1997 fez o estágio de jornalista na revista Inter Magazine, destinada a quem quer saber mais sobre gastronomia. Quando entrou, Paulo confessa que não sabia o que era a gastronomia, sabia que existiam restaurantes e cozinheiros e pastelarias mas não sabia o que era a essência da restauração. Então, enquanto jornalista, o desafio foi escavar e esmiuçar temas, “procurei algumas entidades internacionais, comecei a viajar para o estrangeiro, fui entrevistando os principais chefs em Portugal e fui construindo uma noção” explica.
Acredito que é possível mudar o mundo através da gastronomia
Não teve medo de procurar novos conteúdos, novas pessoas e teve toda a liberdade para marcar pontos na comunicação. Não foi por acaso que, em 2001, o editor lhe fez uma proposta para comprar a revista para a qual trabalhava. Comprou e aventurou-se neste mundo. Hoje diretor da Edições do Gosto, tem vários projetos a seu cargo e a sua grande ambição é levar a especialidade da gastronomia ao grande público. Acredita no que faz, mas já teve as suas crises de achar que não fazia parte deste setor, “sómais recentemente éque comecei a aceitar que se calhar fazia parte, finalmente achei o modelo que traduz as minhas crenças individuais com o trabalho que fui fazendo na gastronomia” constata.
O que este antigo estudante de Direito, que é também autor de livros e praticante de trompete queria, era uma música de ações que tocasse importantes mudanças. Atualmente, dirige uma empresa de referência na área da produção de eventos, promoção e comunicação para as áreas da gastronomia, alimentação e bebidas, com uma herança de quase 30 anos no mercado. Como se não bastasse, tem projetos para manuais escolares atualizados nas escolas de hotelaria, uma parceria com a Essência do Vinho para a realização da Lisbon Food Week e do Congresso dos Cozinheiros e ainda o documentário A Moda da Cozinha, com Tiago Pereira. Inquieto com a evolução constante do setor, Paulo quer marcar uma posição vincada e elevar Portugal no universo dos sabores.
Humanizar as profissões, trazer equilíbrio entre homem e mulher, fazer a integração das comunidades no nosso país, usar as artes e os artistas para ajudar causas sociais, Paulo Amado faz uma lista de desejos que pretende ver cumpridos. Através disso, em todas as suas plataformas pretende poder mudar o mundo. A mudança da gastronomia portuguesa ao longo dos 20 anos foi grande, histórica e geracional. Só para se ter uma ideia, Paulo Amado já promoveu iniciativas como o Fórum de Inovação em Cozinha e Pastelaria (2002), Bolo de Noiva do Ano (2002), Congresso dos Cozinheiros (2005), A Revolta do Bacalhau (2005), Gastronomia com Vinho do Porto (2005), Jovem Talento da Gastronomia (2008), A Mesa dos Portugueses, com Cofina (2011), Lucky 13 Festival Nacional de Gastronomia (2015), Troféu Portugal, com Portugal Sou Eu (2015), revista Comer (2011) e o site ETASTE (2016), entre outras. Faz questão de classificar conceitos, “a gastronomia como a vemos do ponto de vista social éum filão forte, a gastronomia numa perspetiva mais tradicional éoutro filão forte”. Os produtos, os produtores, o meio de escoar, a restauração, as diferentes técnicas e o cliente… é a fileira da gastronomia e, de acordo com Paulo, a vertente tradicional tem um conjunto de desafios fortes.
A força da restauração está agora nos chefs com 20 e tal anos e vão ser eles a construção do futuro
No olhar atento e perspicaz de Paulo, os chefs são vistos como fortes embaixadores da nossa cultura e do nosso país, e nisso há bons exemplos que estão a fazer um ótimo trabalho. Não consegue eleger apenas um chef que considere bom, até porque tem uma memória histórica extremamente longa, mas dos mais recentes elege: Avillez (com David Jesus), Ljubomir Stanisic, Pedro Lemos, Sá Pessoa e Alexandre Silva que são de uma nova geração de empreendedores. João Rodrigues, considera um peso pesado hoje e para o futuro. E finaliza com Rui Martins, potência explosiva na renovação da tradição. É de conhecimento geral que o público português é um público que ama gastronomia e os turistas que vêm cá, ficam fãs portanto, “se houver esta estruturação de forças, acredito que épossível chegarmos mais longe” realça.
Projetos de Paulo Amado
Enquanto humanista Paulo vai continuar ligado à gastronomia e tem uma coisa que o está a satisfazer, uma conexão gigante de artistas com gastronomia, “convido os artistas a fazer vídeos que depois ponho nos eventos, música e comida, acredito que, com isso, posso fazer mudança social”. Paralelamente, continuará a escrever livros, a estudar trompete e a ter a sua banda “porque o problema da gastronomia éque se não te dás conta és engolido por ela”. A família é um elo importante e tenta, cada vez mais, estar presente.