Nascido na ilha Terceira, cresceu em São Miguel e com 14 anos emigra, com a sua família, para o Canadá. Eddy Melo, chef executivo do restaurante AKLA, no lisboeta Hotel Intercontinental, e um dos cozinheiros com mais renome de Portugal, recorda o quão difíceis eram os tempos nos Açores naquela época (no final dos anos 60, início dos 70). «Hoje em dia os Açores vivem muito bem do turismo, mas naquela altura as coisas não eram assim tão fáceis. Vivia-se da caça ao cachalote e pouco mais. A agricultura e a cultura extensiva do ananás chegaram mais tarde», conclui em jeito de explicação. O chef relembra assim a sua pré-adolescência, quando ajudava o pai na oficina (era mecânico de automóveis) e via a mãe, que era costureira e cozinheira profissional, a trabalhar o dia todo. «Talvez a minha vocação venha dela», afirma com um certo orgulho na voz.
Seja como for, quando Eddy Melo faz 14 anos a família atravessa o Atlântico em busca de uma vida melhor. No Canadá, o chef português, que ainda não sabia que o era e muito menos que o ia chegar a ser, arranjou trabalho a lavar pratos em part-time no Hilton de Montreal. Pouco a pouco foi assumindo mais responsabilidades na cozinha e aprendendo entre olhares furtivos. O chefe de cozinha apercebeu-se do seu interesse e perguntou ao seu pai se podia introduzi-lo na cozinha, ao que este respondeu que sim. «Pelos vistos, ele tinha visto em mim algo que eu não tinha visto», recorda o cozinheiro com nostalgia.
Um longo périplo para se converter num dos chefs mais preponderantes de Portugal
Pouco a pouco foi subindo na hierarquia da cozinha até se converter em chef. De Montreal foi para a Jamaica, onde dirigiu a cozinha de um exclusivo resort cujos clientes pertenciam à fina flor da sociedade americana e europeia, após o qual regressou a Montreal onde assumiu o comando da cozinha de um resort de luxo situado numa estância de esqui. Todos estes vaivéns confirmaram o carácter e a cozinha de um Eddy Melo que se estava a aperceber de que o êxito não é consequência de ser melhor ou pior cozinheiro, mas sim da capacidade de se adaptar e de retirar o melhor das pessoas e dos sítios onde estamos. E também do trabalho árduo. «Quando somos emigrantes temos de trabalhar ainda mais duramente para que sermos reconhecidos», refere com um laivo orgulho na voz.
Eddy Melo é, desde a sua abertura há sete anos, chef executivo do AKLA, o emblemático restaurante do Hotel Intercontinental em Lisboa e uma das mecas gastronómicas da capital portuguesa. Tanto é assim que, apenas um ano depois de abrir as suas portas, o restaurante dirigido pelo açoriano era reconhecido como «Melhor Restaurante de Luxo Português» pelos World Luxury Restaurant Awards. Porém, devemos precisar que o chef se encontra há 25 anos na mesma localização, já que, antes de a gestão do imóvel passar para as mãos da cadeia Intercontinental, Eddy Melo já dirigia o restaurante do hotel há quase duas décadas.
Os sabores dos Açores na cozinha de Eddy Melo
Apesar de o chef Eddy Melo ter abandonado definitivamente os Açores há quase meio século, as ilhas atlânticas nunca deixaram de estar no imaginário gastronómico do cozinheiro. Não foi em vão que passou a infância e a pré-adolescência, provavelmente as épocas da vida que mais marcam o nosso carácter, em São Miguel (só esteve na Terceira até aos cinco anos).
Assim sendo, os sabores e cheiros dos Açores, da sua infância, foram algo recorrente na cozinha de Melo. A prova é a ementa que elaborou no verão passado no AKLA na qual tentava evocar os sabores das ilhas Terceira e São Miguel recorrendo ao seu produto autóctone. Assim, o cozinheiro garante que tentou pegar nas raízes das receitas tradicionais e atualizá-las. Para experimentar o menu dos Açores de uma forma diferente, Eddy Melo propõe um evento de cozinha ao vivo, na mesa do próprio chefe, disponível todos os dias ao jantar, mediante marcação.
O chef açoriano reconhece que está empenhado em transmitir às pessoas a grande diversidade de sabores dos livros de receitas tradicionais dos Açores e dos seus produtos e pratos típicos, tais como o curtume ou as alcatras, muito típicas no inverno na ilha Terceira.