Filipe Carvalho, Fifty Seconds - Martin Berasategui: Somos mais do que uma equipa, somos uma família!
A torre Vasco de Gama é o edifício mais alto não só de Lisboa, mas sim de todo Portugal. Situada no Parque das Nações, mesmo na margem do estuário do Tejo, foi projetada pelo arquiteto Regino Cruz para a Exposição Internacional de Lisboa de 1998. A sua parte mais alta está coroada por uma divisão circular envidraçada desde a qual se pode desfrutar de uma impressionante vista de 360º sobre o estuário do rio Tejo e o seu parque natural.
Fifty Seconds, cinquenta segundos, é o nome que o inefável chef basco Martín Berasategui deu a este espetacular cenário em novembro de 2018, nome que se refere ao tempo que o elevador demora a percorrer os mais de cem metros que o separam da sua base. Para esta aventura, famoso chef, oriundo de San Sebastián, teve ao seu lado desde o início Filipe Carvalho, um chef de Aveiro que, apesar da sua juventude (tinha 32 anos quando inauguraram o restaurante) já tinha dado provas das suas inúmeras qualidades em Barcelona, onde trabalhou nas equipas do cozinheiro basco no Oria e no Lasarte onde, já agora, estava quando este último foi galardoado com a sua terceira estrela Michelin.
Filipe Carvalho é um chef que atinge os seus objetivos com dedicação, trabalho, esforço e muito amor. Adora o seu trabalho, embora admita que nem sempre quis ser cozinheiro. Na verdade, a sua obsessão quando era mais novo era ser futebolista. Não gostava de estudar, por isso o pai disse-lhe que, se abandonasse os estudos, tinha de começar a trabalhar. E assim foi. O tio contratou-o para trabalhar na sua pastelaria e ele decidiu matricular-se na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra para fazer um curso de pastelaria. Ganhou o gosto pela cozinha e depois continuou a sua formação na área. Mas o que realmente lhe abriu a mente foi a sua passagem pela Fortaleza do Guincho, um famoso restaurante em Cascais que tinha uma estrela Michelin e que representou a sua primeira passagem por um restaurante gastronómico.
A partir daqui passou por Lisboa, Portugal, mais tarde por Barcelona como sous chef no Oria, e também pelo próprio Lasarte. A sua passagem pela casa-mãe, em San Sebastián, fez com que se destacasse dentro da equipa de Berasategui e o resto é história. Abriram o Fifty Seconds em novembro de 2018 e um ano mais tarde o Guia Michelin atribuía-lhes a sua primeira estrela.
Como é o Fifty Seconds?
É impressionante. A vista, a localização, a decoração, faz tudo parte da experiência gastronómica… Somos 20 pessoas para atender 25 comensais que podem escolher uma refeição à la carte ou um menu de degustação.
E como é a cozinha?
É uma cozinha de produto da época de muitíssima qualidade que elaboramos com grande respeito para que o comensal o identifique. Não nos limitamos a uma única corrente culinária e é possível encontrar na nossa ementa toques da cozinha espanhola, italiana, portuguesa ou asiática. O mais importante é que os nossos visitantes desfrutem da melhor das experiências e se para isso é preciso ir a outros lugares fazemo-lo. Não temos barreiras.
Que liberdade lhe dá Berasategui no momento de elaborar a ementa?
O Martín dá-nos liberdade total. Mas, claro, todas as novas criações passam primeiro pelo Martín para que as aperfeiçoe, lhes dê uma volta ou nos dê a sua opinião. Afinal de contas, é preciso aprender com os mestres.
Como é trabalhar com um chef como Berasategui? Sente o peso da responsabilidade?
Sim, sinto o peso da responsabilidade. Mas em troca trabalhar com ele é muito fácil porque é uma pessoa que está sempre em contacto connosco (falamos todos os dias), apoiando-nos, ajudando-nos. Somos mais do que uma equipa, somos uma família!
Qual é o objetivo do Fifty Seconds? E o seu?
O nosso objetivo, e digo nosso porque aqui somos uma equipa. Sou uma pessoa que tem duas mãos. Aqui somos vinte a trabalhar, por isso temos quarenta mãos. Eu não poderia fazê-lo sozinho. Assim, como lhe dizia, o nosso objetivo é trabalhar continuamente, e melhorar um pouco todos os dias.
Mas, ao trabalhar ao lado de um dos cozinheiros mais laureados do mundo, imagino que a segunda estrela Michelin esteja no vosso horizonte…
Está sempre, não lhe vou dizer que não. Mas nós só podemos trabalhar, esforçar-nos, e tentar melhorar todos os dias para que os responsáveis pelo guia nos atribuam a segunda estrela quando acharem que a merecemos. E, como não sabemos quando é que isso vai acontecer, a única coisa que podemos fazer é continuar a trabalhar. E se nos derem a segunda estrela vamos continuar a trabalhar até nos atribuírem a terceira. Mas, para nós o mais importante é fazer as coisas bem e proporcionar ao comensal uma experiência inesquecível. Esse é o nosso verdadeiro objetivo.