Arrasta um nome comprido, herdado da sua família materna: José Luís Santos Lima Oliveira da Silva personifica a quarta geração da Casa Santos Lima, uma das adegas que mais vinhos portugueses exporta de todo o país. A Makro, a empresa grossista, escolheu a Casa Santos Lima como produtora dos seus vinhos na zona de Lisboa e Alentejo, uma colaboração que impulsionou de forma significativa o fabrico dos seus vinhos e o seu prestígio internacional. A Casa Santos Lima trabalha nas regiões de Lisboa, Algarve, Alentejo, Douro e Vinhos Verdes. A adega converteu-se numa das maiores representantes dos vinhos portugueses fora das nossas fronteiras e, nos últimos anos, foi uma das mais premiadas em importantes concursos de todo o mundo.
Entrevista com José Luis Santos Lima
Poderíamos dizer que o conhecimento do mundo do vinho está-lhe no sangue…
Não… Nada disso. Entrei no mundo dos vinhos depois de uma longa carreira nas áreas financeira e bancária. Só muito mais tarde é que me comecei a dedicar aos vinhos. Estudei economia, trabalhei na banca em Paris, em Londres, em Lisboa…
Como e quando é que começou a sua trajetória no mundo do vinho?
Ainda estava a trabalhar na banca quando comecei a dedicar-me ao vinho, mas decidi deixar essa profissão para me dedicar a 100% em 1995. Então reestruturei a vinha, comprei muito equipamento novo, comecei a preocupar-me com a comunicação da adega… em 1996 comecei a engarrafar a minha primeira colheita. Teve muito sucesso. Começámos a distribuir a nível internacional e recebemos ótimas críticas da imprensa. Os nossos vinhos ganharam muita popularidade graças a essa qualidade que tínhamos conseguido. Começámos a plantar novas vinhas e a trabalhar para melhorar e crescer pouco a pouco.
Como é o sistema de produção dos vossos vinhos?
Temos muitas vinhas próprias e muito terreno com cultivo para fabricar bom vinho. Também temos colaborações com pequenos produtores da região. Vindimamos nas nossas terras e também nas dos pequenos produtores. Desta colaboração surgem vinhos de grande qualidade que tentamos comercializar através de diferentes marcas. Cerca de 90% da produção da Casa Santos Lima vende-se fora de Portugal. Comecei sozinho a fazer todo o trabalho e agora tenho uma grande equipa que se encarrega das diferentes áreas.
Cerca de 90% da produção da Casa Santos Lima vende-se fora de Portugal
A Casa Santos Lima está a explorar novas geografias não tão acostumadas ao consumo de vinho, como a Índia, a Indonésia, a Ucrânia ou a Bielorrússia. Quais são as maiores dificuldades que isso acarreta?
Trabalhamos com mais de 50 países diferentes distribuídos pelos cinco continentes. Estamos a explorar mercados que não estão acostumados aos vinhos e não são fáceis porque só agora é que os consumidores estão a descobrir este tipo de produtos. A parte mais difícil é a cultural, a forma de compreender os vinhos. Embora não sejam os mais simples, achamos que é importante estar presente nestes países. Neste momento, Estados Unidos, Canadá e Escandinávia são os nossos melhores mercados. Somos uns dos maiores exportadores de vinho português. Oferecemos qualidade a um preço muito bom. Preocupamo-nos muito com a imagem, achamos que, hoje em dia, a parte visual é muito importante. Esta receita de qualidade, preço e imagem é o que nos está a permitir crescer.
Quais são os próximos desafios da adega?
Estamos constantemente a tentar melhorar os nossos vinhos e as nossas instalações, investindo em novas plantações. Estamos a considerar a hipótese de ampliar a nossa atividade a mais uma ou duas regiões.
Isso significa que preveem continuar a expansão territorial… Qual de todas as denominações de origem é a mais representativa da Casa Santos Lima?
Agora estamos centrados no Algarve e o objetivo é consolidar a nossa marca e crescer. Lisboa e Alenquer são as zonas mais representativas da Casa Santos Silva, mas também estamos a reforçar a zona norte de Portugal como Vinhos Verdes e Douro. Tentamos ser criativos e inovadores, alargando também a nossa gama de produtos: temos vinhos brancos, tintos, espumantes, rosés…
O que é para si um bom vinho?
Uvas saudáveis, vinhas onde a produção não seja muito excessiva, adegas que cumpram todos os requisitos de saúde e de higiene. Um bom vinho deve estar feito com muito cuidado. Depois disto, encontramos diferentes vinhos e diferentes sabores. Isso já depende dos gostos de cada pessoa. Acho que todos os vinhos podem ser bons, a preços diferentes, se estiverem bem feitos. Só em 2018 nos concursos internacionais temos mais de 200 medalhas de ouro. Estamos no top das empresas de vinho mais premiadas. E estas pessoas que atribuem os prémios também têm gostos subjetivos. Mas o facto de ter vários prémios a nível internacional transmite aos clientes uma grande confiança no momento de nos escolherem.
Qualquer vinho que coloco no mercado me deixa orgulhoso por ver o quão bem feito está. O mais importante é fazer tudo com o coração
De todos os vossos vinhos, qual é o seu preferido?
Só vendo vinhos de que gosto. Não é fácil responder a essa pergunta, é como falar dos filhos. Cada vinho é adequado para uma ocasião. Qualquer vinho que coloco no mercado me deixa orgulhoso por ver o quão bem feito está. O mais importante é fazer tudo com o coração. Temos vinhos de diferentes preços e, obviamente, os mais caros são precisamente os que têm mais qualidade. Não são mais caros por capricho. Tem de haver uma lógica entre qualidade e preço. Acho que temos vinhos para todos os gostos.
Acha que atualmente Portugal desfruta da cultura do vinho?
Neste momento Portugal tem uma nova geração de enólogos que se dedicam a isto de corpo e alma. A imagem de qualidade dos vinhos portugueses está a melhorar. Portugal é produtor de bons vinhos. Muitas pessoas só experimentam os vinhos portugueses nas provas internacionais e ficam surpreendidas com a qualidade que temos. Porém, quando sabem os preços, quando veem que não são tão caros como outros vinhos europeus, ficam ainda mais surpreendidas.
Muitas pessoas só experimentam os vinhos portugueses nas provas internacionais e ficam surpreendidas com a qualidade que temos. Porém, quando sabem os preços, quando veem que não são tão caros como outros vinhos europeus, ficam ainda mais surpreendidas
O que é que o setor vinícola português ainda tem de fazer para se posicionar e competir com os vinhos franceses?
Em geral, os vinhos franceses são demasiado caros para a qualidade. Para que Portugal melhore neste sentido precisamos de investir na divulgação do nosso produto fora das nossas fronteiras. Ainda há muito por fazer…