É um dos chefs com maior sucesso em Portugal, autor de sete restaurantes: O Talho, A Cevicheria, O Asiático, O Surf & Turf, O Poke, A Barra Japonesa e O Boteco. Os seus pratos privilegiam a criatividade e o espírito de partilha. Reinventa receitas tradicionais portuguesas e, quase num passo de magia, recria pratos típicos de outras culturas na esperança de servir uma experiência única a quem os prova. As suas inúmeras viagens são uma influência natural e quase inata na cozinha e nelas vê o casamento perfeito entre a partilha cultural e a gastronomia.
É preciso recuarmos alguns anos para percebermos a história deste chef que tem dado passos largos na gastronomia portuguesa. Nascido no Brasil em 1979, o chef Kiko Martins mudou-se para Portugal com a família em 1990 onde acabou por frequentar o ensino secundário.“Tive a sorte de ter muitos irmãos em casa, de ser o filho mais novo e era mais fácil que os meus irmão me cedessem alguma coisa se cozinhasse para eles ou se passasse mais tempo na cozinha” relembra com ironia. Mas não era só essa a influência que tinha, havia um lado de Kiko que ainda hoje se mantém: a vontade de alegrar as pessoas e de fazer coisas para se sentir bem com a vida e, na cozinha, era o espaço onde conseguia isso.
Não fazia ideia se queria ser cozinheiro ou não quando era mais novo, acho que só comecei a descobrir isto bastante mais tarde quando trabalhava com sem abrigos na Comunidade Vida e Paz e distribuía comida à noite
O contacto com as pessoas foi o click para que Kiko Martins percebesse o papel da comida “unir as pessoas e criar uma ligação entre elas” sublinha. E apesar de ser licenciado em Gestão de Marketing, foi em 2004 que a sua vida mudou, depois de ter estado um ano em Paris na escola de cozinha «Cordon Bleu». “Éuma área que me apaixona diariamente, não me vejo a fazer outra coisa”diz. Não esconde a adrenalina que é ter um restaurante, cozinhar e poder ir às mesas e sentir toda a logística, “apaixonei-me brutalmente por isso” ressalva.
Nós quando viajamos carregamos o nosso GPS, com mapas que muitas vezes não sabemos quando os vamos usar, mas a verdade é que os vamos usando
Depois sentiu necessidade de ir conhecer o mundo. Quando se casou, foi um ano para Moçambique trabalhar como voluntário numa missão de solidariedade ao serviço da associação sem fins lucrativos “Leigos Para o Desenvolvimento”. No ano seguinte, decidiu embarcar numa viagem à volta do mundo. E cumpriu o sonho. Passou por Peru, Japão, Brasil, Chile, Jordânia, Israel, Líbano, Índia, Nepal, Vietname, ao todo foram 26 países onde absorveu cheiros, sabores e tradiçőes que ia carregando na mochila que em vez de ficar mais pesada, ficava mais inovadora. Esta experiência resulta naquilo que hoje faz na cozinha: trazer o mundo a Portugal. No início de 2013 abre o seu primeiro restaurante em Lisboa: O Talho. Com um conceito de restaurante e loja no mesmo espaço, dedica-se exclusivamente ao conhecimento e aperfeiçoamento gastronómico da carne. Há carnes do mundo com molhos de preparação diferentes. E porque os sabores peruanos que tinha provado na sua viagem à volta do mundo ficaram gravados na memória do gosto, abriu um novo espaço no Príncipe Real desta vez dedicado ao peixe e aos preparados peruanos: A Cevicheria. Mais tarde, em Outubro de 2016 lançou O Asiático. Sempre com vontade de fazer diferente e de ser original, quando viajou foi de coração aberto, na ânsia de conhecer o mundo e perceber como é que as famílias comiam e estavam à volta de uma mesa.
Trabalhar a portugalidade, servindo à mesa sabores que surpreendem, sejam peruanos, asiáticos, brasileiros, havaianos, no fundo o que o chef procura é partilhar com os portugueses a sorte que teve de conhecer o mundo.
Movido pela originalidade Kiko gosta de lançar projetos que aqueçam a alma e garante que não existe lugar melhor para nos conhecermos do que à volta de uma mesa. Se olharmos para a história da humanidade, a mesa sempre teve um lugar de destaque, pelo lado do cristianismo o chef realça: “quando Jesus se despede éàvolta de uma mesa, as grandes reuniőes e decisőes são tomadas àmesa, as famílias reúnem-se àmesa para conversar, a alimentação dá-nos o prazer mas o que realmente éimportante éo que gira àvolta da mesa”.
Sou uma pessoa obcecada pelo equilíbrio. De que vale ganhar o mundo se não tenho a minha família e os meus amigos?
Na busca de coisas novas, este ano o chef Kiko vai com a equipa de cozinha ao Quénia e ao México para perceber como está o mundo de sabores lá fora.
A par da inovação, está a partilha de conhecimento. Na RFM marca presença num programa que se chama “O chef Kiko resolve” onde fala sobre aproveitar os desperdícios que temos em casa. Hoje em dia com desperdícios alimentares cada vez mais incompreensíveis, o chef destaca a importância de percebermos que não podemos ter tomate o ano todo no mercado ou indica como cozinhar de uma forma eficiente, aproveitando alguns restos de comida.
A família ocupa uma parte muito importante da sua vida e ter o equilíbrio entre família e trabalho é fundamental.
Abertura de “O Boteco” no epicentro de Lisboa
O projeto novo é ligado ao Brasil, precisamente relacionado com a cidade onde nasceu, o Rio de Janeiro. Nele a ideia será homenagear a cultura carioca do boteco, tendo como foco o petisco, alguns pratos brasileiros como a feijoada, a moqueca, o pão de queijo, caipirinha ou beber o típico chopinho, tudo em plena Praça de Camőes. A ideia surgiu há dois anos e meio, “éuma maneira de agradecer o facto de ter nascido naquela cultura e com aqueles sabores e de partilhar isso com os portugueses” destaca.
Sobre os elementos que compőem uma boa cozinha, Kiko sublinha “vivemos num mundo competitivo e vivemos numa fase ótima da restauração e por isso dágozo poder pensar num projeto de A a Z”. Por este motivo, este espaço vai recriar a cultura alegre e o calor brasileiro. Olhar para o futuro mas cuidar do presente, esta é a filosofia do chef Kiko.